Caminhando ao lado do estuprador

Sempre tive repulsa aos estupradores. Considero este tipo de criminoso um covarde, um sujeito de tamanha baixeza que sempre recebeu de mim o mais completo desprezo e ódio, legitimando pensamentos como “que receba na prisão o que causou as suas vítimas” ou “que rasteje pelas sombras, pelas sarjetas até que, num único ato de dignidade, acabe pondo fim a sua própria existência”.

Pensamentos nada nobres, eu bem sei. Mas, afinal, é um estuprador….

Principalmente quando pensamos em crianças, adolescentes que terão suas vidas destroçadas, seus sonhos arrasados, sua auto-estima arrebentada para sempre por causa de um vil criminoso que queria extravasar seus impulsos sexuais.

Mas, durante essa semana, conheci algumas pessoas. A principal delas foi a doutora Dorothea, psicóloga de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Ela também tinha asco por estupradores. Conhecia os efeitos nas vítimas de abuso sexual, que atendia em seu consultório. Foi quando recebeu um convite do presídio local, para auxiliar um estuprador que queria repensar sua vida. Na verdade, um passatempo para o criminoso, que nada de mais útil tinha para fazer. No entanto, um grande desafio para Dorothea, que precisou ajustar sua apertada agenda para ajudar o sujeito

Foi ali, nas dependências da putrefata carcerária, que um milagre aconteceu. Não sei bem se foi uma luz, que flutuou sobre o piso defecado e urinado do presídio. Se um som como de harpas ou uma figura de uma pomba, que pousou na janela da cela (costumo visualizar estes símbolos, quando penso na Graça de Deus se deslocando do Céu até o pecador). Só sei que uma profissional bem sucedida esticou sua mão ao mais vil pecador. Visitou a família deste homem, acompanhou os dramas e os ajudou até o dia que o outrora estuprador se transformasse num pecador arrependido, ciente de sua desgraça humana.

Fico pensando até onde a Graça de Deus pode chegar. Essa manifestação divina que não faz super heróis, mas convence o homem de sua baixeza, de sua total carência do Criador.

Qual é a diferença daquele estuprador para mim? Ele, o criminoso, sabe que não pode restaurar ou pagar pelo que fez. Que nada nessa vida pode compensar o dano que causou a suas vítimas. Eu, bem, às vezes me engano achando que não sou tão ruim assim. Que tenho créditos para negociar com o Criador… mas, na verdade, como me ensinou a doutora Dorothea, há apenas dois tipos de pessoas. Pecadores arrependidos e regenerados pelo poder transformador de Deus e pecadores não-arrependidos.

Que Deus me mostre outras Dorotheas pelo caminho.

3 Comentários

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3 Respostas para “Caminhando ao lado do estuprador

  1. Sara

    Lindo texto. Realidade nua e crua. Deus nos mostre a cada dia o porquê estamos aqui… Creio que ficamos tão “cheios” que esquecemos de levar um pouco mais da Palavra. Digo cheio em relação a tudo. Cheio de si, de ódio, de raiva, de rancor, de nojo…
    Deus me mostre também algumas Dorotheas no caminho…
    Um beijo, Marcelo!

    PS: Apenas para lembrar um fato que aconteceu hoje… Seu timeco caiu!

  2. mmflorzinha

    É amigo, pra quem nunca esteve em Massachussets até que vc fala bem, viu…rs
    Gosto de ler seus trecos… toda vez que leio, repenso.
    Acho que isso é o que te impulsiona: saber que as tuas palavras efetivamente exercem um poder sobre o que as lê, seja qual for este poder.
    No meu caso faz bem! Ler suas matérias é como discutir pessoalmente com vc, o que tb é bacana…
    Cara, qualquer dia desses nós seremos vizinhos em Massachussets, viu! Enqto isso, vamo treiná:
    ême á ésse ésse á cê agá ú ésse ésse ê tê ésse…
    ói qui facim… rs
    Ps. té que cê escreve bem sim, mas inda acho que a melhor coisa que fez na vida foi o Guilherme…num é?!?
    bjus! Tia Flor!

  3. Anonymous

    Achar outras Dorotheas ou ser uma Dorothea?

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